quarta-feira, 27 de junho de 2018


"Saudade é um bicho estranho que mora na gente. Às vezes entramos numa sessão nostálgica e acabamos alimentando-o. Forçamos nossos ouvidos a escutar de novo aquela canção que foi nossa, mas que agora não é de ninguém e isso machuca. Frequentamos, inevitavelmente, os mesmos lugares e notamos que a aquela mesinha no canto continua sendo preterida e, portanto, continua sendo nosso lugarzinho no mundo, mas que sentar ali sozinho já não faz muito sentido. Achamos peças de roupa no armário e parece que o amor veste a gente novamente. •

Saudade alimentada só nos atrasa. É preciso matá-la de fome, sufocá-la com novidades, com novas lembranças, com novas sensações, lugares e companhias. A saudade tem que morrer de fome, caso contrário, ela come nossas entranhas, nos fere, nos rasga por dentro. E a hemorragia nos faz pegar o telefone e tentar reviver o passado. Nós, que parecíamos curados, percebemos que não estamos tão curados assim, o dano é imenso, praticamente apaga todo aquele esforço e dias de abstinência. •

Porque é sim uma fase de desintoxicação, de libertação, e quanto mais mexemos nas feridas, cutucamos as cicatrizes e coçamos os pontos, mais longe estaremos de recomeçar de verdade. Não há nada mais libertador, e no início, doloroso, que sentir a nostalgia entrando pela janela e focar no presente. Repetir mentalmente "é vida que segue, é vida que segue, é vida que segue". Seguirá." 
From: https://www.instagram.com/p/BkbU-lAnzWJ/?taken-by=victorofern